Conteúdo atualizado em 20 de junho de 2024.
O Stop Cyberbullying Day é comemorado na terceira sexta-feira de junho para promover a conscientização e a luta contra essa forma de assédio digital. É uma iniciativa que visa incentivar indivíduos, empresas e organizações a demonstrarem seu compromisso com um ambiente on-line verdadeiramente inclusivo e diversificado, onde não haja medo de ameaças pessoais, assédio ou abuso.
Por esse motivo, refletiremos sobre essa questão e o papel dos pais e educadores ao lidar com situações de violência on-line. Também compartilharemos uma série de dicas que podem ser úteis ao lidar com essa questão tanto em casa quanto na sala de aula.
O que é cyberbullying e qual é o seu impacto?
O cyberbullying é a forma digital do bullying, um problema que sempre esteve presente nas salas de aula e também nos ambientes de trabalho. Ele difere do bullying presencial por fatores como o anonimato, o fato de estar on-line 24 horas por dia ou a dificuldade de remover conteúdo da internet que pode ser usado para afetar uma pessoa.
De acordo com um estudo realizado pela ONG Bullying Without Borders entre 2022 e 2023, os casos de bullying continuaram crescendo globalmente e, em média, 6 em cada 10 crianças sofreram alguma forma de bullying diariamente, tanto fisicamente quanto por meio da mídia digital. Além disso, um relatório da Pew Research de 2022 detalha que quase metade (46%) dos adolescentes entrevistados relatou ter sofrido pelo menos um tipo de cyberbullying.
Uma pesquisa do instituto Ipsos revelou que o Brasil ocupa o segundo lugar no ranking mundial de ciberbullying, com 30% dos pais ou responsáveis entrevistados afirmando que seus filhos estiveram envolvidos em casos de ciberbullying pelo menos uma vez. Em janeiro de 2024, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou uma lei, aprovada no Congresso em dezembro, que inclui o bullying e o cyberbullying no rol de crimes previstos no Código Penal. A pena para bullying é de multa, mas para cyberbullying é agravada para dois a quatro anos de prisão, além de multa, sendo mais severa do que a punição para o crime de furto, por exemplo.
Na internet, o bullying está aumentando
Além das estatísticas, as mães, os pais e/ou as instituições educacionais tendem a confundir o mundo digital com um mundo irreal ou virtual, que não está ao alcance deles ou não tem relevância no mundo "real"; no entanto, diferentemente do bullying tradicional, o cyberbullying geralmente tem um impacto ainda maior sobre as vítimas.
O primeiro passo para lidar com essa questão é entender que tudo é amplificado na internet. Uma publicação chega a milhares de pessoas em questão de minutos e, em pouco tempo, todas essas pessoas estão falando e comentando sobre ela. O conteúdo agressivo fere e prejudica muito mais, pois à medida que aumenta o número de pessoas que acessam, curtem, compartilham e comentam uma publicação, o impacto é muito maior.
Muitas pessoas começam a comentar e discutir o conteúdo publicado, o que pode causar sérios transtornos se a publicação afetar negativamente alguém. Uma vez que o conteúdo se torna viral, é praticamente impossível interrompê-lo ou removê-lo, mesmo que o autor se arrependa. O anonimato proporcionado pelas telas e redes sociais encoraja as pessoas – muitas vezes menores de idade – a dizer e fazer coisas no mundo digital que não fariam no mundo real.
Nesse contexto e buscando promover ações proativas para trabalhar questões como o cyberbullying e a agressão on-line, propomos quatro pilares que mães, pais, escolas e professores podem implementar para lidar com esse problema.
1. Formação de bons cidadãos digitais
Assim como o mundo digital faz parte da vida real, as regras e os modos que se aplicam ao mundo digital são os mesmos que já conhecemos no mundo físico. Ensinar às crianças o respeito e as regras de convivência deve incluir o ambiente on-line, portanto, a educação nesse contexto deve considerar aspectos relacionados a lidar com a mídia digital e a se comunicar por meio dela.
Muitos pais se preocupam com a privacidade online de seus filhos, com as fotos que eles compartilham nas redes ou com o número de amigos com os quais interagem diariamente. No entanto, são esses mesmos pais que frequentemente publicam fotos de feriados ou eventos familiares, passam muito tempo nos celulares ou baixam aplicativos fraudulentos e materiais ilegítimos. É fundamental lembrar a frase de Albert Einstein: "Educar pelo exemplo não é uma maneira de educar, é a única maneira".
No âmbito escolar, disciplinas como educação cívica e cidadania devem transcender o limite físico e incluir também os tópicos de ética, moral e respeito no mundo digital. Por outro lado, exercícios e atividades em equipe também são uma maneira poderosa de fazer com que os grupos se comportem de forma coesa. O objetivo dessas atividades é fazer com que todos os membros da classe trabalhem juntos em prol de um objetivo comum, usando todos os seus pontos fortes individuais e valorizando as habilidades de cada pessoa para concluir uma tarefa. Hoje em dia, há inúmeras atividades que podem ser baixadas da internet e podem até ser realizadas por meio de um smartphone ou tablet.
2. Conscientização em vez de proibição
A conscientização é poderosa: ela muda as percepções sociais. Em vez de criar pânico sobre o uso da tecnologia ou espalhar mal-entendidos, a conscientização permite o surgimento de uma atmosfera positiva.
Portanto, é essencial educar as crianças sobre o que é o cyberbullying, fornecendo-lhes as ferramentas e o conhecimento necessários para que possam detectar precocemente os sinais de cyberbullying, tanto em vítimas quanto em agressores.
Para os pais, definir regras claras é fundamental para chegar a um acordo sobre o uso responsável da tecnologia. É necessário explicar às crianças os riscos existentes e como essas regras ajudam a protegê-las. Não se trata apenas de proibir ou restringir uma atividade, mas de fazê-las entender a importância de serem cuidadosas.
Por sua vez, muitas escolas preferem proibir o uso da tecnologia, o que faz com que os alunos a rejeitem e pode levá-los a esconder seus smartphones e usá-los sem que o professor perceba.
Os jovens se identificam com a tecnologia e a adaptam à sua vida cotidiana. Nesse sentido, é importante mostrar aos alunos como eles podem usar a tecnologia para o bem comum, como compartilhar conhecimento ou apoiar uns aos outros. Além disso, ao incorporar a tecnologia na sala de aula, os professores podem se concentrar no uso ético da tecnologia.
Dentro do uso responsável, há regras que devem ser ensinadas explicitamente por meio do estabelecimento de políticas firmes. As políticas servem como uma boa maneira de reduzir a agressão verbal ou digital e estabelecê-la como um comportamento inaceitável.
3. Solidariedade coletiva na denúncia de casos de abuso
Na maioria dos casos de cyberbullying, o silêncio por parte do ambiente se deve principalmente ao medo de ser a próxima vítima ou de ser punido pelos adultos. Nesses casos, as crianças precisam saber que o problema não é a tecnologia, mas seu uso irresponsável. Nesse sentido, a promoção de um diálogo fluido e de um espaço de escuta também ajuda as crianças a saberem a quem recorrer em casos de violência.
Por outro lado, a violência on-line pode e deve ser denunciada nas mesmas plataformas. Todas as redes sociais têm a opção de denunciar publicações, comentários e até perfis que violam ou assediam uma pessoa. Essa é a única maneira de remover conteúdo agressivo nas redes sociais, pois quando um número de denúncias é acumulado, a publicação ou o perfil é removido. Essas denúncias são totalmente anônimas, portanto, não há medo de retaliação.
Nesse sentido, é importante ensinar as crianças a fazer uso dessa opção e incentivá-las não só a conversar com um adulto em caso de situação de assédio, mas também a fazer a denúncia na plataforma.
Leia mais: 5 dicas para ajudar as crianças a navegar na Internet de maneira segura
4. Diálogo: a base de todo o suporte
No caso dos pais, conseguir um diálogo fluido, um espaço de confiança e um comportamento responsável é a chave para capacitar as crianças e protegê-las dos riscos existentes na internet. Gerar diálogo e abrir um canal de comunicação fluido é um ponto fundamental.
No ambiente escolar, é crucial que os alunos saibam a quem recorrer e onde buscar ajuda antes que um problema ocorra. Nesse sentido, a confiança é fundamental para abrir o canal de diálogo. O que acontece na internet é muito sério para os alunos, embora muitas vezes eles não percebam a gravidade. Sua identidade digital é essencialmente uma extensão de sua pessoa física. Portanto, se um aluno vier até você com um problema, o professor deve compreender a seriedade da situação e encontrar os recursos necessários para resolvê-la.
É importante lembrar que os alunos mais jovens podem saber muito sobre o uso e o funcionamento da tecnologia, mas os adultos definitivamente têm mais experiência de vida e compreensão dos riscos que podem surgir.
Nesse contexto, explorar questões como riscos tecnológicos, segurança na internet e comportamento online é fundamental para promover o diálogo. Também é necessário quebrar o silêncio em torno do bullying e do cyberbullying, discutindo casos de cyberbullying e suas soluções. Pais, professores e educadores devem ser claros, empáticos e se comunicar abertamente com crianças e jovens.
Considerações finais
Ao entender a comunicação digital como parte do universo pessoal de cada indivíduo, podemos refletir sobre as palavras de Eleanor Roosevelt: "Os direitos humanos começam em lugares pequenos, próximos de casa, tão próximos e pequenos que não aparecem em nenhum mapa do mundo. No entanto, são o mundo do indivíduo: o bairro onde vive, a escola que frequenta, o local de trabalho. É nesses lugares que todos, homens, mulheres, meninas e meninos, buscam justiça igual, oportunidades iguais e dignidade igual, sem discriminação. A menos que esses direitos tenham significado aqui, terão pouco significado em qualquer outro lugar. Sem a ação conjunta dos cidadãos para defendê-los em casa, procuraremos em vão o progresso global."
Em resumo, o bullying e outras formas de comportamento abusivo nas redes sociais se tornaram um problema real e contínuo. Embora as plataformas sociais estejam trabalhando arduamente para acabar com eles há algum tempo, também é responsabilidade dos pais e das instituições educacionais se envolverem e acompanharem os jovens para que desfrutem de uma vida digital plena e muito mais segura.