O envelhecimento da população mundial é uma tendência cada vez mais evidente e, segundo projeções da Organização Mundial da Saúde, até 2030 uma em cada seis pessoas terá mais de 60 anos. Nesse cenário, em que a interação com a tecnologia se torna cada vez mais comum, é importante destacar que, embora ela traga benefícios para todas as faixas etárias, também apresenta riscos significativos.
Hoje em dia, já não é incomum que adultos mais velhos utilizem ferramentas digitais no dia a dia, o que, infelizmente, também as torna alvo de ameaças digitais. Muitos golpes exploram a confiança dessas pessoas e o fato de não estarem tão familiarizadas com as complexidades do ambiente digital. Por isso, é essencial abordar essas questões de forma específica.
Embora, segundo dados da FTC, em 2016 os millennials tenham sido as principais vítimas de cibercrimes, os prejuízos financeiros maiores recaíram sobre as pessoas com um pouco mais de idade. Fraudes direcionadas a esse grupo são menos frequentes, mas, por características específicas, as perdas costumam ser mais significativas.
De acordo com o FBI, com dados do Internet Crime Complaint Center (IC3), cerca de 88 mil pessoas com mais de 60 anos, nos Estados Unidos, perderam mais de 3,1 bilhões de dólares em fraudes na internet. As principais ameaças foram golpes de suporte técnico e fraudes com criptomoedas.
Esses números reforçam a importância de promover a cibersegurança entre a população idosa, com estratégias adequadas para que possam navegar com mais segurança e confiança no ambiente digital.
Conhecer esses golpes é o primeiro passo para preveni-los e proteger uma população cada vez mais conectada.
Principais cibercrimes que afetam pessoas idosas - e também outras faixas etárias
Golpes por e-mail (phishing):
O phishing se caracteriza por explorar as emoções dos usuários, incentivando-os a clicar em links ou baixar arquivos potencialmente perigosos. Essas mensagens geralmente despertam sentimentos de alegria ou preocupação, justamente quando as pessoas tendem a baixar a guarda e agir impulsivamente. Como diz o ditado: "Quando entra a emoção, sai a razão."
Por isso, é essencial orientar os mais velhos (e também a nós mesmos) a desconfiar de e-mails que anunciem prêmios inesperados, promoções imperdíveis (alegria) ou alertas de bloqueios de conta, dívidas ou cobranças urgentes (preocupação). Antes de clicar em qualquer link ou baixar arquivos, o ideal é verificar com calma se a mensagem é legítima e confirmar a fonte.
Embora as mensagens de phishing possa se fazer passar por comunicações oficiais de bancos, lojas conhecidas ou instituições públicas, o padrão é sempre o mesmo: provocar emoção e induzir uma ação rápida, sem reflexão. Por isso, atenção redobrada.
A seguir, um exemplo genérico de como pode começar um golpe sobre encomendas:

IMPORTANTE: O phishing não chega apenas por e-mail - esse tipo de mensagem também pode ser enviado por aplicativos como WhatsApp, Telegram, Instagram e até por SMS, como veremos a seguir.

Chamadas telefônicas falsas
Criminosos costumam se passar por técnicos de suporte ou até por familiares em situação de emergência. Esse tipo de fraude é bastante conhecido - o famoso "golpe do falso parente". Seguindo a lógica de que, quando entra a emoção, sai a razão, é fundamental manter a calma e, em hipótese alguma, fornecer dados pessoais ou informações de pessoas próximas durante a ligação.
Golpes na web e nas redes sociais
Ofertas falsas, links maliciosos, perfis fraudulentos ou mensagens suspeitas estão entre os principais riscos ao navegar na internet. É comum buscarmos produtos ou marcas no Google e clicarmos nos primeiros resultados, acreditando se tratar dos sites oficiais. No entanto, nem sempre é assim. Muitos cibercriminosos clonam páginas legítimas e pagam por anúncios para aparecer no topo das buscas.
Nas redes sociais, o cenário é semelhante: perfis falsos de marcas ou marketplaces divulgam promoções imperdíveis — mas que não passam de iscas. Por isso, ao encontrar uma oferta muito atrativa, é essencial verificar se o perfil é confiável: observe a quantidade de seguidores, a frequência das postagens e os comentários de outros usuários.
Além disso, também são frequentes as mensagens aleatórias recebidas por SMS, WhatsApp ou outros aplicativos de mensagens. Esses golpes seguem a mesma lógica do phishing: apelam para emoções como urgência ou entusiasmo para induzir a vítima a clicar em links ou fornecer dados confidenciais. Os objetivos podem variar — roubo de informações sensíveis, infecção do dispositivo para espionagem ou sequestro de contas como WhatsApp e outros serviços.
A seguir, podemos ver um exemplo de mensagem enviada por WhatsApp, vinda de um número desconhecido, prometendo um benefício inexistente e tentando convencer a vítima a realizar uma transferência de dinheiro em troca da suposta vantagem.
Sequestro de contas
Em golpes relacionados ao sequestro de contas, é comum que cibercriminosos se passem por representantes de serviços legítimos, como o suporte do WhatsApp. Nessas situações, eles solicitam à vítima um código de verificação — que serve justamente como chave de acesso para que o invasor assuma o controle da conta.
Uso de senhas fracas ou repetidas em diferentes plataformas
Por praticidade, muitas pessoas acabam utilizando a mesma senha para diversos serviços, o que representa um risco enorme. Se um atacante conseguir acesso a uma conta, tentará usar as mesmas credenciais em outras plataformas - e, se forem iguais, o prejuízo pode ser grande.
Atualmente, com tantos cadastros digitais, é difícil lembrar de todas as senhas, mas é fundamental que elas não sejam triviais nem repetidas. Uma solução segura é utilizar um gerenciador de senhas como o KeePass. Ou, de forma mais analógica, anotar as senhas em um caderno guardado em local seguro - ainda assim, é melhor do que repetir a mesma senha em todos os serviços.
QR codes em ação
Os códigos QR estão cada vez mais presentes no dia a dia: cardápios, pagamentos, compartilhamento de contatos. Mas é importante lembrar que eles sempre redirecionam a algum site - que pode não ser confiável. Golpes com QR codes têm aumentado, e por isso, é essencial saber exatamente o que estamos escaneando antes de apontar a câmera.
Recomendações práticas para estar protegido
- Não compartilhe dados sensíveis: evite fornecer dados bancários ou informações pessoais por telefone, e-mail ou redes sociais. Sempre confirme a identidade de quem está solicitando esses dados.
- Use senhas seguras: crie senhas fortes e únicas, combinando letras maiúsculas e minúsculas, números e símbolos. Se necessário, utilize um gerenciador de senhas.
- Mantenha os dispositivos atualizados: atualizações corrigem falhas de segurança. Mantenha o sistema operacional e os aplicativos sempre atualizados. Ative a verificação em duas etapas (2FA)
- Habilite o duplo fator de autenticação em contas importantes: como e-mails, redes sociais e aplicativos de mensagens. Esse recurso adiciona uma camada extra de proteção.
- Cuidado com links: não clique em links suspeitos, mesmo que pareçam enviados por alguém conhecido. Use um software de segurança confiável
- Instale um bom antivírus: realize varreduras regulares nos dispositivos.
- Evite redes Wi-Fi públicas: nunca acesse serviços bancários ou informações sensíveis em redes abertas e sem senha.
- Eduque-se e tire dúvidas: participe de palestras, leia conteúdos confiáveis e converse com familiares sobre cibersegurança. Em caso de dúvida, peça ajuda a alguém de confiança.
Como ajudar os mais velhos
- Envolver-se ativamente: acompanhar as pessoas idosas na configuração de seus dispositivos e ensiná-las a identificar riscos com exemplos concretos.
- Criar um ambiente de confiança: incentivá-las a perguntar antes de tomar decisões online. Assim como acontece com as crianças, é importante ter paciência e estimular o diálogo, pois uma conversa pode evitar muitas dores de cabeça no futuro.
- Revisar as plataformas juntos: verificar configurações de privacidade em redes sociais e aplicativos. Se nós mesmos tivermos limitações técnicas, essa pode ser uma boa oportunidade para “matar dois coelhos com uma cajadada só”: buscar orientação com um técnico de confiança e, ao mesmo tempo, repassar esse conhecimento para os mais velhos.
Conclusão
Com orientações simples, paciência e o apoio adequado, é possível garantir que os adultos mais velhos usem a tecnologia com mais segurança. A cibersegurança não é um luxo - é uma necessidade. Proteger os idosos é um dever de todos nós, assim como um dia eles cuidaram da nossa segurança.