Esclarecendo o termo em inglês, Catfish é o nome dado aos golpistas que criam perfis falsos para interagir com suas vítimas e conseguir enganá-las, induzindo-as a se aproximar afetivamente e visando construir algum tipo de relacionamento falso, seja ele breve ou mais duradouro, como um “namoro”. Golpistas que usam essa tática também são conhecidos como scammers.
E qual poderia ser o intuito criminoso ao tentar enganar pessoas dessa forma? Em geral, os criminosos buscam conseguir o mesmo de sempre, retornos financeiros.
Por ser um tipo de golpe que gera uma proximidade muito grande com as vítimas, os apelos para conseguir este objetivo são diferentes das abordagens que costumamos ver em outros golpes digitais. Para entender um pouco mais sobre como esses golpes acontecem, começarei falando sobre os locais onde os criminosos procuram seus alvos - e existem diversos lugares onde eles podem fazer isso. Confira dois dos principais tipos de ferramentas usadas pelos criminosos:
# Aplicativos de relacionamento: Me refiro a aplicativos pois quase todos os sites dedicados a conectar pessoas para relacionamentos tem uma versão em app atualmente. A quantidade de aplicativos com foco em relacionamento aumentou bastante nos últimos tempos, e os criminosos usam todos eles, sem exceção.
Este já é um ponto de atenção interessante, sabendo que todos eles são usados para a prática de golpes, caso você ou alguém que conheça utilize qualquer um deles é importante saber que podem cair nesse tipo de golpe e tomar as devidas medidas para impedi-los.
# Redes sociais: No princípio da disseminação desses tipos de golpe não havia aplicativos, apenas redes sociais permitiam interações entre pessoas, e elas ainda são utilizadas pelos criminosos para este fim. Da mesma forma que os aplicativos, independente da rede social os criminosos estarão presentes nela.
Uma vez nas redes sociais/apps os criminosos costumam proceder mais ou menos da mesma forma, muitas vezes mudando apenas um pouco da história que contam para suas vítimas.
O ponto em comum é que sempre se fazem passar por uma pessoa que seja fisicamente atraente, caso finjam ser uma mulher o perfil falso costuma ser de uma estudante com idade entre 20 e 25 anos; caso o perfil seja masculino costuma ter acima de 40 anos, com um cargo estável de alta renda, normalmente atrelado a alguma atividade de risco ou com atuação militar.
É importante ressaltar que as abordagens iniciais dos criminosos parecem ser legítimas. Parece realmente haver uma pessoa do outro lado legitimamente interessada em você, mas com o tempo, que pode variar de dias até meses, os criminosos conduzem a conversa para o golpe que eles pretendem aplicar que, como citei anteriormente, costumam terminar com a vítima transferindo quantias financeiras a eles.
Fazendo uma busca sobre esses tipos de golpe e vendo como alguns desses criminosos atuam, vi que as abordagens costumam ter a mesma falsa urgência apresentada nos golpes de phishing, e se distinguem basicamente em dois tipos de perfis:
- Quando fingem ser uma mulher, costumam comover as vítimas falando sobre o celular que caiu/está velho/foi roubado e estão usando um emprestado e precisam do dinheiro da vítima para comprar um novo, a mensalidade da faculdade está atrasada e terá que trancar o curso se não pagar, há alguma dívida da família ou dela mesma que é muito alta e precisa de ajuda para ser paga e claro, a suposta falta de dinheiro para o aluguel.
Perceberam algo em comum em várias dessas histórias mal contadas? Quase todas elas são necessidades recorrentes, o que permitirá aos criminosos tentarem extrair dinheiro das vítimas de forma recorrente.
- Quando fingem ser um homem normalmente as abordagens são mais voltadas a necessidade de transferência de fundos com o dinheiro da vítima, pois o dinheiro deles está supostamente bloqueado em alguma transação sem liquidez que não pode ser movimentada, está preso no exterior e só poderá ser transferido em X tempo, que ele necessita comprar bens mas seus cartões não são aceitos no site em que a compra irá ocorrer, eles precisam ajudar um parente em necessidade e essa movimentação financeira só pode acontecer com duas contas bancárias que supostamente não tenham restrições.
O ponto aqui é que por muitas vezes a história contada exige valores mais altos das vítimas, fazendo com que, caso elas caiam no golpe, tenham quantias mais significativas subtraídas de uma vez só.
Infelizmente a proximidade emocional gerada por esse golpe, as estratégias psicológicas usadas pelos criminosos para persuasão e as supostas necessidades recorrentes apresentadas por eles podem fazer com que a vítima se apegue ao criminoso permitindo que o criminoso a prejudique ao longo dos meses, ou até anos.
Não é raro encontrar casos de vítimas que pegaram empréstimos com familiares e instituições financeiras para “ajudar” os criminosos que estavam em uma falsa situação de vulnerabilidade. E como a vítima costuma não saber nada real sobre a pessoa com quem está conversando, quando o criminoso decide interromper o golpe por algum motivo, basta ele parar de ter contato ou apagar as redes sociais, aplicativos, e-mails e outros meios de contato usados e a vítima nunca mais ouvirá falar sobre aquela pessoa.
Observação: Procurei basear este artigo em coisas mais plausíveis como perdas financeiras, pois são perdas mensuráveis, mas na minha opinião a perda com maior potencial de danos a vítima é imensurável. O abalo psicológico causado por manipulações deste tipo pode literalmente destruir a vida de uma pessoa, por isso algumas das recomendações de segurança serão bem diferentes das que me veem falar em minhas outras publicações.
Como se proteger?
- Desconfie. Principalmente das histórias tristes: Criminosos que aplicam esse golpe usam estratégias de persuasão que podem mexer com questões emocionais para sensibilizar as vítimas. Tenha ciência de que criminosos poderão lhe abordar com estratégias iguais ou similares as descritas acima, olhe as conversas da forma mais analítica possível e tão não ceda a pressões deste tipo.
- Ninguém é perfeito: Boa parte do que parece ser “bom demais para ser verdade” é de fato uma mentira. Em um primeiro momento os criminosos podem parecer a pessoa dos seus sonhos para te convencer a enviar fotos intimas, vídeos e compartilhar informações pessoais apenas para que possam fazer algum tipo de chantagem, como o sextortion, para te tornar ainda mais refém. Cuidado com quem compartilha suas informações pessoais.
- Conheça pessoalmente: Esse tipo de crime em específico acontece exclusivamente no meio digital, procure conhecer presencialmente a pessoa com quem você estiver conversando. Criminosos habilidosos em aplicar este tipo de golpe tem uma rede digital muito convincente, mas nunca encontram a vítima pessoalmente. Se a pessoa com quem você estiver se relacionando evitar te encontrar pessoalmente, mesmo que sempre haja boas desculpas para que isso não aconteça, pode se tratar de um golpe. Caso opte por marcar um encontro faça-o sempre em locais públicos e em horários bem movimentados, isso ajuda a evitar outros tipos de crimes.
- Nunca transfira dinheiro sem conhecer pessoalmente: Lembre-se que você poderá ouvir/ler histórias muito convincentes, e não importa quais sejam elas, evite enviar recursos a pessoas que você não conhece a fundo, que lhe façam ter certeza de que a necessidade de que elas dizem passar é real.
- Pergunte sempre: Fazer as mesmas perguntas em momentos diferentes podem auxiliar a revelar se se trata de um golpe ou não. Caso quem esteja em contato com você esteja sustentando uma mentira, perguntar a mesma coisa em momentos distintos pode fazer com que caiam em contradição, lhe dando fortes indícios de que se trata de um golpe
- Peça ajuda: Caso tenha sido vítima deste tipo de golpe, procure apoio psicológico! Com amigos, família ou com terapeutas profissionais . Como citei anteriormente é um tipo de golpe que costuma afetar as vítimas psicologicamente. Passar por isso sem pedir ajuda pode tornar a situação ainda pior do que parece.
Caso tenha ficado com alguma dúvida ou tenha sugestões de temas relacionados à segurança da informação que gostaria que abordássemos nas próximas publicações, conte-nos nos comentários.