Quem trabalha com segurança da informação sabe que o fator humano é um dos pontos mais críticos desse setor — tanto no âmbito corporativo quanto no pessoal. Dentro das empresas, uma parte gigantesca dos incidentes de segurança são causadas por falhas humanas (como um colaborador mal-treinado que abre um anexo infectado em uma campanha de phishing), o que demanda um alto investimento em programas de conscientização e educação para todo o quadro de funcionários.

Os problemas, obviamente, não param por aí. Vivemos em um mundo cada vez mais conectado, sendo que a internet simboliza uma parte crucial de nossas vidas. Serviços públicos estão sendo digitalizados, o uso do internet banking é cada vez maior e mensageiros instantâneos se tornaram o método mais usado para comunicação interpessoal — especialmente em tempos de pandemia do novo coronavírus (SARS-CoV2). É crucial saber se proteger contra as ameaças que rondam a web.

Isto posto, eis a questão: porque não estamos ensinando nossas crianças os conceitos básicos sobre segurança cibernética na grade curricular do ensino fundamental ao ensino médio?

Existem diversas iniciativas pontuais — a maioria de origem privada, é claro — que visam levar esse tipo de conhecimento aos estudantes. No Dia da Internet Segura, por exemplo (que é comemorado anualmente em 9 de fevereiro), é comum que organizações sem fins lucrativos organizem palestras e conteúdos educacionais próprios para tais faixas etárias, e, em parcerias com educadores, disseminem esses materiais dentro das escolas.

Analisando o cenário a vinte anos atrás, seria impossível imaginar o quanto a internet faria parte de nosso cotidiano — e tampouco quantas ameaças existiriam nela. Dispositivos IoT, carros inteligentes, casas conectadas… Isso é apenas uma amostra que o ciberespaço está se convergindo com o mundo físico, e saber se proteger dentro dele significará, daqui a vinte anos (ou menos!), proteger a sua integridade, honra e direito à privacidade. A Lei Geral de Proteção (LGPD) está aí para provar essa tendência.

Diversas grades curriculares já preveem aulas opcionais de informática e laboratórios com computadores devidamente capacitados a prover esse tipo de ensinamento. Enxergo o estudo da engenharia social sendo perfeitamente encaixado na disciplina de sociologia. Alguns poucos vídeos instrutivos a respeito de boas práticas de higiene na web já seriam o suficiente para despertar o interesse dos alunos a respeito do assunto; materiais complementares podem ser disponibilizados sob demanda.

Se as crianças de hoje são o futuro da nação, educá-las a respeito de segurança cibernética pode simbolizar uma necessidade menor de condicionar seu comportamento seguro posteriormente no mercado de trabalho — além de, é claro, colaborar para a manutenção de uma sociedade mais segura, estrangulando cada vez mais o crime cibernético, reduzindo a disseminação da desinformação e garantindo o exercício da democracia. Afinal, se há algo que não temos dúvidas é que o futuro é digital.

Autor do post: Ramon de Souza – Escritor, jornalista especializado, palestrante e consultor em segurança da informação. Editor-chefe da The Hack, repórter do Canaltech e fundador da Tietê Security.