O período de volta às aulas já começou, um tempo esperado por muitos, embora com certeza há aqueles que gostariam de continuar aproveitando “férias eternas”. No entanto, além dos gostos e expectativas, há um assunto ao qual todos devemos prestar atenção e que é muito importante para o futuro dos mais jovens.

Não me refiro a segurança das crianças na Internet e ao cuidado que devem ter ao usar a tecnologia, o que é fundamental e discutimos isso em posts anteriores. Estou falando de outra coisa...

Há algum tempo atrás, eu terminei de ler um livro muito interessante de Santiago Bilinkis sobre as perspectivas e os desafios que nos aguardam no futuro graças ao desenvolvimento exponencial da tecnologia, e uma das questões em destaque era a necessidade de reinventar a educação – exatamente no capítulo que podemos baixar de forma gratuita (em espanhol).

Será que todas as crianças estão recebendo aulas de informática real? Certamente muitos acreditariam que sim, mais ainda quando usamos computadores em nossos trabalhos e as crianças trazem a tecnologia praticamente incorporada em seu desenvolvimento diário.

No entanto, não refiro apenas as aulas em que as crianças aprendem a usar aplicativos, navegar pela Internet e a estarem seguraas na web, estou falando daquelas em que também ensinam a entender como a tecnologia funciona.

Infelizmente, estamos em um cenário em que poucos lugares oferecem uma educação sobre computadores com profundidade para os alunos antes da universidade, e a porcentagem de pessoas que precisam usar computadores parece estar se aproximando rapidamente de 100%. A demanda de pessoas que sabem como programar ou manter computadores e redes - e especialmente daqueles que sabem como fazer tudo isso com segurança – ultrapassa amplamente a oferta.

Poucos lugares oferecem uma educação sobre computadores com profundidade para os alunos antes da universidade.

No entanto, se problema não está presente nos níveis básicos de educação e não é considerado como uma maneira possível para que as crianças demonstrem interesse, perderemos a possibilidade de ter seu talento e acabaremos por escolher mais carreiras "tradicionais", só porque as crianças não sabiam que podiam seguir esse caminho.

Como consequência, continua crescendo a falta de profissionais qualificados para preencher posições relacionadas à tecnologia, desenvolvimento de software e gerenciamento de segurança. Considerando este ponto, achamos que fazer as crianças se interessarem por computadores deve ser algo mais importante. Mas, aparentemente, esse não é o caso, e se não lhes conferimos a oportunidade de nos familiarizar com a tecnologia nos estágios iniciais, não podemos fechar a brecha.

E se, além disso, adicionarmos as mudanças constantes às quais a indústria está sujeita, como consequência de novas tecnologias, a profissão relacionada à segurança não pode se mover rápido o suficiente para manter-se atualizada.

Muitos de nós, que atualmente trabalhamos na área de segurança, começamos por curiosidade ou porque a carreira profissional nos levou para esse lado. No meu caso, foi devido a minha formação acadêmico – no início eu estava mais inclinado ao mundo das telecomunicações, mas acabei me interessando pela segurança. Eu sempre soube que queria trabalhar com tecnologia, mas não sabia que seria nessa área específica, enquanto outros colegas queriam ser médicos, artistas ou advogados e estavam certos sobre sua especialidade. Não foi por causa da indecisão, teve mais a ver com o desconhecimento desse mundo tão apaixonante que é a segurança, e é muito provável que algo parecido esteja acontecendo agora com aqueles que estão buscando concentrar seus caminhos.

O que acontece no resto do mundo?

É uma realidade que cada país tem uma abordagem diferente em seu sistema educacional, principalmente nos países da América Latina - esses tipos de questões geralmente não estão na agenda principal de muitos governos. Os assuntos que são considerados necessários em todos os casos a nível internacional são os mais tradicionais: leitura, matemática e ciências naturais, por exemplo.

Para ter uma ideia das diferenças culturais, vejamos alguns exemplos muito diferentes que estão bem longe da nossa realidade, mas que são considerados muito bem sucedidos em termos de resultados de testes para essas "questões centrais" universais: Finlândia e Coreia.

Na Finlândia, o país cujas notas em Leitura, Matemática e Ciência são geralmente maiores do que no resto da Europa, os alunos realizam menos testes padronizados e possuem menos horas de tarefa. Em vez disso, os estudantes são motivados a estudarem outros idiomas, além da língua oficial do país.

Na Coreia, as coisas são bem diferentes. Os alunos passam mais tempo na escola e, além disso, realizam tarefas após a aula. No entanto, tanto na Coreia quanto na Finlândia, a ciência da computação é considerada eletiva.

Embora ambos estejam avançando fortemente para a alfabetização digital com a incorporação de tecnologia na sala de aula, isso não é o mesmo que entender como os computadores funcionam. Muitos dos nossos países começaram a incorporar tecnologia na sala de aula, mas estão muito distantes dos níveis desses outros dois países. Além disso, a maioria das informações são abordadas de forma mais simples: saber como usar programas básicos provavelmente já seja o suficiente.

A oportunidade de melhorar

Em particular, as coisas que podemos fazer sobre o estado atual da situação podem ser divididas em duas áreas: estimular a mudança nas políticas e exposição dos estudantes aos computadores e ao código. Dessa forma, temos a oportunidade de começar a gerar mudanças.

Aqueles que são educadores ou que têm filhos que gostariam de apresentar um pouco mais sobre esses assuntos, podem usar iniciativas como YoyoGames (em inglês), para que todos possam fazer seu próprio jogo. Por outro lado, em sites como Code.org é possível encontrar tutoriais para iniciantes e não apenas para crianças.

Deixando o ambiente digital, sempre é possível abordar a escola e conversar com os diretores e professores para comertar sobre a importância da educação relacionada aos computadores, caso eles não levem isso em conta. Afinal, para gerar mudanças, precisamos estar todos na mesma página e com um único objetivo: compartilhar a mensagem.

As crianças agora estão crescendo em um mundo onde os computadores fazem parte de quase todas os ambientes familiares, o que significa que muitos deles acessam a Internet sem uma boa compreensão de como funciona ou como usar com segurança. Ao educá-los mais cedo sobre a melhor maneira de usar essas ferramentas poderosas, não só ajudaremos a protegê-los de possíveis problemas, mas também lhes daremos o conhecimento para enfrentar um mundo em constante mudança e onde essas questões estão se tornando mais relevantes.