Como a maior parte dos nossos leitores já sabem, o Roadsec é um evento itinerante que viaja pelas principais cidades do país, e é considerado um dos maiores encontros hackers da América Latina. Durante as edições, são realizadas palestras, cursos, oficinas e também campeonatos. E fique de olho, pois o próximo encontro acontece neste sábado (24), em Belo Horizonte (MG).
O Roadsec é voltado para hackers e estudantes, além de profissionais e empresas de segurança da informação. Desta vez, o festival será realizado na PUC Minas – Coração Eucarístico, a partir das 9h30, e as inscrições podem ser feitas pelo link que também está na página do evento.
Para saber mais, confira uma entrevista exclusiva realizada com Anderson Ramos, sócio-fundador e CTO da Flipside, e um dos principais responsáveis pelo Roadsec.
Quando e como nasceu a ideia do evento?
Anderson – O evento nasceu em 2013, com três grandes motivações. A primeira era promover uma reaproximação de diversos públicos que orbitam em torno da cultura hacker e que ao longo dos anos foram se fragmentando: especialistas em segurança, programadores, usuários de software livre, ativistas, makers e apaixonados por tecnologia em geral. Essa aproximação também ocorre entre as universidades, o mercado profissional e as comunidades, três universos que estão sempre presentes em todas as edições.
Além disso, também queríamos construir uma grande comunidade que fosse verdadeiramente nacional, levando exatamente o mesmo tipo de experiência, pelo mesmo preço, a todos os participantes, não importando o local do Brasil que estivéssemos. Por fim, queríamos resgatar as competições de Capture The Flag que estavam um pouco esquecidas no país. Criamos o Hackaflag, hoje a maior competição do tipo no continente, e uma iniciativa que cresceu tanto que praticamente já se descolou do evento. Tudo isso celebrado no final do ano numa edição de encerramento em formato inovador, misturando festival de música com conferência, numa grande celebração da cultura hacker.
O que buscam com o Roadsec?
Anderson - Primeiro colocar a cultura hacker, em todas as suas vertentes, no centro das atenções da grande mídia. Ainda há muita estigmatização em torno da figura do hacker, um mal-entendido que no geral foi criado pela própria imprensa, algo que precisava ser desfeito.
Hoje há essa proliferação de matérias jornalísticas estilo "hacker do bem", uma coisa que é motivo de piada na comunidade, já que bem ou mal são simplificações meio bobas, mas acredito que seja um progresso no sentido de tentar explicar algumas coisas pro público em geral. No entanto, o mais importante é ajudar nosso país a tirar o atraso tecnológico, promovendo a aproximação de um universo muito amplo de pessoas, empresas, organizações e interessados. Falta mão de obra técnica no mundo todo, no Brasil então nem se fala, e a gente sabe que os melhores escolhem a área e começam a estudar por vontade própria muito cedo. O fascínio com a figura do hacker atrai essas pessoas para espaços comuns e muitas coisas podem surgir a partir disso, seja no universo corporativo, na cultura, na arte, na música e na política.
Ainda há muita estigmatização em torno da figura do hacker, um mal-entendido que no geral foi criado pela própria imprensa, algo que precisava ser desfeito
Qual o público alvo?
Anderson - Qualquer pessoa que se interesse pelo hacking como cultura, apenas isso. Mas por conta do formato, do valor do ingresso e da temática, acaba havendo uma predominância do público jovem, com a participação crescente do público feminino. Cerca de 90% do público está na faixa de 18 a 44 anos, mas temos também estimulado bastante a participação dos grandes veteranos da indústria, para que seu conhecimento e suas histórias alimentem os anseios das gerações que estão chegando.
Qual o significado (para você) de estar à frente do Roadsec atualmente?
Anderson - Me aproximei dos computadores muito cedo, depois da eletrônica no colégio, e sempre vi o hacking como cultura, como celebração da ideia de que conhecimento é poder. Trabalho no mercado de segurança há 20 anos, desses já se vão quase 10 empreendendo, muitos erros e aprendizado pelo caminho. O Roadsec foi aquele projeto onde, de maneira muito, ousada nós da Flipside, empresa que organiza o evento, tentamos unir os pontos, juntar tudo que acreditávamos. Quando fizemos isso, percebemos que não daria para fazer poucas edições, teríamos que fazer dezenas para amenizar o risco e viabilizar financeiramente as cidades do Norte e Nordeste, já que essas tinham os maiores custos de execução e o menor poder aquisitivo. A gente sempre espera acertar nas coisas, mas o sucesso do evento é realmente surpreendente. Me sinto privilegiado de estar à frente de um projeto como esses, cercado de pessoas incríveis, dentro e fora da empresa, procurando ouvir bastante, já que é um privilégio que vem com uma grande responsabilidade.
Os problemas que a gente se dispôs a resolver aqui no Brasil existem em outros lugares, embora com características diferentes
Quais são os planos futuros para o evento?
Anderson – Internacionalização, sem dúvida. Os problemas que a gente se dispôs a resolver aqui no Brasil existem em outros lugares, embora com características diferentes. Estou hoje dedicado a pensar nesses problemas e a construir uma rede global de parcerias para levar isso adiante. Neste ano, com a mesma humildade que começamos em 2013, teremos as primeiras edições teste fora do país.
Eu pessoalmente não tenho interesse de que nosso time faça esses eventos em outro lugar, acredito que, para funcionar, o encontro precisa ser feito por pessoas que signifiquem algo para as comunidades dos seus respectivos países. Nosso interesse no final é transformar o evento em um modelo adaptável que possa ser levado adiante. É uma ambição e tanto, no mercado de eventos há poucos casos de iniciativas desenvolvidas no Brasil exportadas para outros lugares. O Rock In Rio é o único que me vem à cabeça, embora não tenha pretensão nenhuma de fazer essa comparação estapafúrdia.
O que o público de Belo Horizonte pode esperar para essa próxima edição do Roadsec?
Anderson - Belo Horizonte é uma das três cidades que receberam o beta do evento em 2013 (iniciamos oficialmente em 2014). A comunidade é muito forte, há um longo histórico de iniciativas locais, e construímos uma relação especial com a cidade. Já passamos da marca de 300 inscritos, faltando ainda duas semanas para o evento, e nossa expectativa é fazer a maior edição da história em termos de público.